Canções para educar
“O berimbau é um instrumento para quem tem poucos neurônios. A música da Bahia é batuque, não tem qualidade”[1]. Essa frase do professor Antônio Natalino Dantas, chefe do Colegiado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, suscitou reações de autoridades públicas e dos movimentos sociais.
Essa frase revela que o gosto verticalizado e excludente está longe de ser característica individual, ao contrário, reside na mentalidade baiana erguida com horror, medo e repugnância às características físicas, culturais especialmente aos grupos sociais subalternizados. Não só isso, a padronização do gosto é a regra que acomete pessoas de qualquer classe, nível de escolaridade e cor da pele.
Esquecemo-nos de que o erudito alicerça-se em valor, em história de conquistas, em vitória de um povo eleito à condição de melhor. Os discursos exteriores qualificam as propriedades dos ritmos, das notas, classificando-as como civilizadas, avançadas. As marcas da história inscrevem nos objetos, naturarizando-os como superiores.
Entretanto, no íntimo da criação reside apenas a diferença, o múltiplo. Em todo o mundo há contingente de pessoas desraigadas de apreciações clássicas, hierárquicas tradicionais manifestas a cada instante, em lugares como a Bahia. Isso mostra o quanto a escolaridade de um indívíduo – Educação concebida como grandiosa – não foi capaz de assegurar frenagem a juízos mais alicerçados na consciência e menos no factual.
Contudo, o dissenso atua pari passo à hierarquização dos objetos da criatividade humana em discussão aqui. Inusitados instrumentos e ritmos surgem da inexaurível criatividade humana que transborda as tradições etnocêntricas onde quer que se encontrem. Novos estilos: rap, doom, death, grunge, kuduro, arrocha, rapgode - oriundos ou não do berimbau, do piano mesclados a tudo mais - encantam pessoas de todas as cores, idades, civilizações que, contrariando a estandardização do gosto - elegem para si a melhor música, o melhor estilo, à revelia da regra de universalizar o ruído, o som, a música.
[1] Frase extraída do jornal A Tarde, Salvador, quinta-feira 1-05-2008, p.04.
É desumano perdoar, quando nos ofendem.(nietzsche)
-Ivan Obama é ativista Negro, professor de inglês e mestrando em Cultura e Sociedade da FaCom-
segunda-feira, 5 de maio de 2008
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